11 de agosto de 2013

FAVELADOS E PALESTINOS: DOIS POVOS E UM INIMIGO COMUM


Texto por Fábio Nogueira, escritor do Fazendo Media

Domingo pela manhã passou no cine Odeon um ótimo filme, Lemon tree, do diretor canadense Eran Riklis. O diretor aborda a questão Palestina/ Israel, sob o ponto de vista de duas mulheres, uma palestina e a outra israelense. O pano de fundo são as plantações de limões da mulher palestina, que ficam em frente à casa do ministro da defesa de Israel. A ideia é que essas plantações poderiam representar uma ameaça à segurança do ministro.
O histórico palestino-israelense todos já conhecemos, e certamente não tem um final feliz como estamos acostumados a ver nos filmes. Mas existe uma forte semelhança entre os povos palestinos, brasileiros (aqueles que vivem em favelas) e o povo cubano: A luta sobre o inimigo opressor, o Estado.
Nessa sessão, havia três convidados que conhecem bem a realidade dos dois primeiros povos: o cartunista Carlos Latuff, e os ativistas Gilmar Rodrigues e Bettine Silveira. Esses três ativistas, ao contrário de alguns intelectuais que gostam de falar de pobres para enriquecer seus bolsos e fazer dessas pessoas objetos de estudos para chamá-los depois de “coitados”, conhecem a realidade dura dessas comunidades tão distantes e semelhantes no tocante à repreensão dos Estados nacionais. Ambas lutam há anos pelo simples fato de serem reconhecidas como cidadãos. Em seus arredores vive uma parcela da população capitalista e belicista, que faz de tudo para acumular mais e mais, sob o domínio e proteção de um Estado conivente.
Latuff destacou em sua fala como a VELHA MÍDIA BURGUESA BRASILEIRA (VMBB) trata a população de forma discriminatória e chacota. Comentou que, caso um morador da favela organize um protesto, logo será rotulado como se fosse a mando do tráfico e os palestinos de terroristas. Uma tática muito comum utilizada pelas classes dominantes para deter os avanços ou lutas populares: é a ideologia do medo.
As políticas de segurança feitas pelo Estado do Rio de Janeiro já começaram a dizer por que vieram, e a ditar o que deve e não deve fazer.  Desde a primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) instalada na Zona Sul da cidade, os imóveis supervalorizaram. Remoções são feitas sem nenhum critério, não está havendo respeito quanto aos moradores que estão há na comunidade, que perdem seus laços familiares, culturais e históricos. Suas raízes, enfim. Essas e outras famílias dos morros da Zona Sul estão sendo simplesmente colocadas a centenas de quilômetros dos locais de origem.
Um detalhe muito importante que vale destacar foi dito pelo sociólogo da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), José Jorge da Silva, no documentário do cineasta Rodrigo Niven, chamado Cortina de fumaça. Dizia o professor que com os avanços da UPP's nos morros da zona norte, os serviços básicos legalizados como água, luz, iptu e os tributos forçariam com o tempo a saída desses moradores dos morros da Zona Sul. Ou seja, quem está no asfalto ocuparia as comunidades, e quem está no morro desceria para onde ninguém sabe. O professor deu um nome bem apropriado aos locais: Mônaco da Zona Sul. Para quem entende, um pingo é uma letra. E os números de mortos nem precisa dizer, pois são em sua maioria sob o pretexto do chamado auto de resistência (?)… Todos pretos e pobres.
As demais comunidades fora do eixo norte-sul somente poderão ficar  na esperança de algum dia nossas autoridades estarem de boa vontade para lembrar de colocar efetivos mais decentes  na zona-oeste e baixada. Mas, como essas regiões não atendem os desejos financeiros e turísticos da região viveremos de promessas.
A Palestina é muito parecida com as comunidades do Brasil, talvez bem pior. Além de contar com um exército de Davi, pois os soldados contam com pouquíssimas armas para sua defesa e enfrentam não somente um Golias e sim muito mais, a nação de Israel conta com ajuda militar e financeira dos Estados Unidos e países da União Europeia. Há seis anos a Palestina, na área de Rammalah, vive um total abandono. O casal de ativista (Gilmar e Bettine) relatou que a população está privada de muitas coisas, como falta d’agua até em  escolas. Enquanto os palestinos se defendem com paus e pedras, os israelenses despejam toneladas de bombas. O número de mortos palestinos é de longe muito maior.
Os países são diferentes, a cultura, o idioma, porém o inimigo é o mesmo: O Estado e sua máquina semelhante a um rolo compressor, que vai destruindo tudo pela frente. Todos nós temos de tirar a fenda que cobre os nossos olhos, e ter um outro olhar sobre o histórico de lutas dessas populações. Ambos querem simplesmente levar suas vidas com mais dignidade. O importante da luta é que ambos não abaixem a cabeça para quem nunca se importou com suas vidas. Não perder a esperança de que a luta por respeito, dignidade e um Estado legítimo não está sendo em vão.

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